segunda-feira, 14 de novembro de 2011

À espreita

Quem na penumbra me espera?

Ouço atenta um pulsar do peito,
fatídico e pertubador,
inconscientemente no vão que engole o quarto.

Agachada, rente à parede,
abraçada ás próprias pernas,
tremendo de medo, 
curiosa criança feita de sombras.

 Num delírio cego tateio o ar
Procurando o que talvez nao exista
Ou alguém que
Na ânsia de brincar no escuro
Seja a luz no túnel
Que  penso não possuir mais...















segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Espaços









Eu quero
na avidez do agora
sóis bocejantes, ociosos,
daqueles que cospem estrelas.
Parceiras, irmãs
de vícios e mal entendidos
serenatas nulas,
bucolismos, palavras vãs,
debruçadas num pátio negro
atônitas de tédio e ressaca.
Quando a flor tiver adormecido
quero voltar para mim,
quero a minha casa,
aquela mesma onde nunca estive.

Sob o tácito arvoredo mirar na soalheira
e estraçalhar a velha janela,
roubar fruta do pé, voltar a sonhar de novo.

Que não seja nada demais por fim:
buscar o encantamento perdido,
tirar o pó do futuro 
e vestir o frescor hipnótico do que se passou...




sábado, 24 de setembro de 2011

Desconcertante







Entre cortinas encardidas,
velho caderninho como testemunha,
um feixe brilhante sob a chuva me espera.
Ele, solene a espreita, mãos no bolso
Me vigia presumindo meus passos
Como criança a contar  pedrinhas pelo caminho.

Pode ser um interlúdio,  uma conspiração,
Doce algoz que mata silenciosamente
E depois foge ás gargalhadas.

E quem sabe 
inevitavelmente
não seja eu mesma,
delirante e perplexa,
reclusa e desconexa
 inquietação frívola
de tocaia...

Encontro a minha íris e enxergo o mundo.





quarta-feira, 22 de junho de 2011

No name




Caneta na mão de anti poeta é curiosa:
parece uma espada, forjada no fogo da bainha,
que trava com seu dono um duelo particular
onde seu oponente se eterniza
e aniquila seu admirador.
Tudo num só golpe...


Mumuk







Quisera ter o poder para sentir palavras
e nesta sonâmbula egotrip tornar-me um corpo só
onde todos os significados lhe cabem.
Envolver os dedos em frases para apurar detalhes,
pontas vivas,
assim quisera eu,
monossilabicamente,
nascer interrogação,
persistir parágrafo,
sucumbir em reticências...












sábado, 28 de maio de 2011

Inserts






Despertar ao morrer do dia.
No extremo da rua um brilho.
Em seu núcleo uma porta, entreaberta.
Aroma que laça
e não avisa para onde ir.
É assim com as palavras:
viajam desgovernadas,
meninas,
heroínas,
aniquiladoras,
escudo em riste,
apontando o dedo na cara,
trazendo sede, torturando,
mas estampando em sua tez 
a profundidade que somente as grandes coisas abrigam.


Yama to Mizu





Se entorpecido, gerúndio
Assustado, questiona
Sublime, urgente
Raivoso, doce
Analítico, Jung
Louco, pacifica
Sutil, estardalhaço
Fresco, entregue
Triste, verdadeiro
Analógico, discórdia
Puro, peculiar
Vadio, precisa agendar
Involuntário, imenso.

Eis alguém,
mão erguida,
cafeína,
álcool,
enxaqueca,
caneta,
olhos que sangram.

Jaz a seu tempo o ser poesia.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Ouves?



Acompanha-me
divida comigo a busca pelo fim
provar o tudo e o nada.

Caminhe entre peixes
e singre corais sob arredios cavalos 
ao nascer da nova história.
Nesta direção faltam os nomes,
coisa alguma hesita...

Temeis estrelas bocejantes
e sóis dispersos,
feixes elétricos,
a acordar o mundo?

Emudece o néctar tão puro
que dispensa fórmula:
vício ao paladar,
sinfonia para olhos antes pasmos.

Morro lentamente e quando seu desejo anseia por lógica...

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Vírgulas



Sobre o vento construo meu mundo
e me levo para bem longe
onde braços não alcançam,
lamentos não me ofuscam
e nem amarras me detém.

Para nada há medida
a tudo regras abertas
um hiato mudo salta comigo
como a nascer para morrer mil vezes
e dividir comigo
tal experiência.











Óggs


Mil vezes sentiria
e a mesma quantidade viveria
sempre a revelia de quem um dia
prometeu não ser mais uma Maria

Deviam assim,
em harmonia,
sob o corpo da poesia
desnudar esta parca ousadia
munida de voraz picardia
enquanto a Grande Mãe caía.

Decerto que a pena valeria
se não fosse a alheia teimosia 
de se atentar ao que se achava que via
e por fim qualquer coisa concebia.

(Nessas horas invejo o pimenteiro)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A macieira





O meu pouco é imenso,
aos trancos forma sons e cores.
É o abraço que não cabe no mundo
nem em volta daquele que escolhí
onde o começo ensaia o que sumiu.

O meu pouco é imenso
desses que não se acham por aí
e que, 
atiçado pelo constrangimento, 
ficou "demodê"
ou virou utopia contemplável.


É que meu pouco é mesmo imenso,
maquinando inquieto, 
adivinho,
querendo um alento para o peito cansado
e a cabeça baixa
contrapondo a dúvida sobre o inacreditável.



sábado, 15 de janeiro de 2011

Outrem




Aquilo que mora onde não conheço
me deve sua alcunha
minha referência do que fui
e o que fiz
para chegar ao topo desta calçada.

Não me diz nada,
não estreita vínculos,
fenece entre as rachaduras do impronunciável
detendo todas as línguas
boicotando a derradeira resposta.

A morosidade vagueia pelas lacunas
sôfregas,
estendem as mãos
pedindo ajuda.

Chega de andar em círculos...