segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Noll




O inerte ser que aqui pulsa declara:

Sou,
em suma,
o nada.

E como a verocidade que consome a lição desaprendida tenho um prazo,
vivendo num piscar
como a cigarra lá fora,
a pleitear feito louca
 a sua sobrevida...

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Touchié!





Sob as pedras,
de mãos soltas,
admirados,
fitamo-nos demoradamente.
E numa eternidade
medida em segundos
enxergamos a tênue linha racional,
o fundo do mar sem nome,
o cerne do que é verde,
a íris petrificada...


Quando maravilhados, despertamos.

Ocre





Sinto nas pontas dos dedos
o trastejar da vontade contida
como a rasgar o piso frio
e o intrépido olhar


Apenas por escrever.


E se não o faço,
dada a urgência galopante que o tempo perdeu,
engorda a minha coleção particular  de devaneios a resolver.
Pendências essas que criam pernas
e farejam minha presença


Somente por escrever.


Ou por fazer das mesmas partes minhas
abandonadas em becos sem luz.
Até que fiquem incredulas perante mim,
atrás das faíscas luminosas que brotam do meu peito...


... por escrever.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Hidrocolor






A minha roupa está completamente suja

Da tinta do pálet

Da pesarosa intenção do materializar.

É como minha vida 

Um borrado grande que impregna

Talvez porquê eu vivo a desenhar no escuro
No fundo da minha alma

E por lá, vez ou outra, não tem luz.

Mas não se diz que é com os olhos vendados que se enxerga pacientemente o mundo?

Não quero ver o que gostaria,

e sim aquilo que preciso...


Vou procurar mais pincéis,
encher o copo de rum,
quem sabe achar  alguém 
perdido no meio do traço vazio,
na dança dessa mistura...

sábado, 14 de agosto de 2010

Junqueiro




A palavra

O medo

Sangue na bainha da espada

Impregnado pelo sol cortante

O grito que eu não dei

A mão que te abandonou

A linha invisível

O sopro derradeiro

O cair da pétala

Os segundos congelados

O deslizar na face salgada pela batalha interior...

E a lágrima caiu

e quedou silenciosa.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O vácuo



Bitcho,


ando fatigada.


Talvez do mundo inteiro, lá fora da minha cabeça.


Sei lá, sabe gosto insosso de sopa de hospital?
Visita em casa de tia que ronca feito motor?
Sexo na mesma posição todo dia?
Mais ou menos isso...


Por quê as coisas de repente perdem o sentido de serem, de acontecerem?


Muitas vezes me refaço essa pergunta...


E quando me dou conta volto ao ponto inicial das coisas...




É que a reflexão sobre o fato de voltar atrás nas decisões me move incoerentemente,


coisa de gente doida...