sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Open up




Tive um sonho na última noite.


Eu tinha absoluta razão em tudo aquilo que acreditava e fazia, o tempo inteiro.
Uma sensação fantástica de estar acima de tudo me invadiu, era muito real.
Quase se podia tocar.
Coisa doida no peito,
Furor que não se segurava nem com mil homens.
Esbravejava,
Fugia,
Insultava,
Batia e “assoprava” logo em seguida


E nada me atingia.

Pude dar o salto maior do que a perna várias vezes que meu corpo não sentia,
Os músculos não ficavam estirados,
Não existia nenhuma possibilidade de erro,
Nem dava margem a um leve equívoco.

Mas tocaram no meu braço, acordando-me.

“Levanta, menina. É tempo de abrir os olhos”

Despertei.

Olhos quase que cerrados,
Sentindo sede,
Pensativa sobre o que é de fato esse teatro diário chamado Realidade.

(Sorte minha ter acordado...)

Mergulho



Quero muito saltar.

Cair de cabeça,.
Me espatifar no chão,
No abismo,
No âmago do meu ser.

Mas preciso fazer isso agora
Que essa urgência é torturante
A necessidade louca
E não agüenta por mais um minuto esperar.

O que sobra de quem não pula do precipício?

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Espelho



Quero fazer uma releitura sobre meus feitos,
de preferência os que se mostraram tremendamente prejudiciais.
Não que se apegar ás virtudes seja ruim
(muito pelo contrário, alimentam o ego),
é que se ver como o mundo me sente é mais honesto.
Comigo.
Com todos.
Aquela sensação de mal estar permanente,
gosto insosso na boca
como de comida que faz mal,
e a gente devora aos montes.
Fui má comigo,
amei erradamente,
não me viram,
me humilhei de todos os jeitos,,
segurei pensamentos que só me afetaram ainda mais,
cometí injustiças,
insistí teimosamente,
me afobei...
Mas estou aqui,
incrivelmente de pé,
o resto do resto,
a sobra
dos acertos futuros...

domingo, 11 de outubro de 2009

A cor única



Somos assim.


Distraídos,
afinados,
diferentes,
equivocados,
dispersivos,
intensamente conectados.


Pensamos assim.


Queremos muito,
não temos coragem,
somos realistas
e idealistas,
atiramos a esmo,
nos arrependemos,
contrariamos,
brincamos como crianças.


Amamos assim.


Estranhamente,
receando mostrar nosso lado frágil,
fugindo do óbvio,
fingindo ter a coragem do lutador,
passando ridículo,
se atirando desesperadamente em braços sem nome e rosto...


Somos assim.


Um feixe de luz cristalino
intenso
como o abrir das pétalas de uma flor,
mas
que murcha com o tempo...
Que seja eterno... enquanto você pulsar dentro de mim.

sábado, 10 de outubro de 2009

Carta ao caro M. H.




"Menina que passa,
exibida,
cantando,
distraída,
brincando,
consciente,
zombando,
meticulosa,
e que fecha os olhos para a dor do mundo...

Por quê fizeste de mim escravo das suas artimanhas?

Com qual propósito aceito tais amarras tão antigas?

És, na simples definição, um vício incessante,
do qual tomo muitas doses para me sentir vivo e,
no fundo, mesmo me fazendo muito mal,
não o quero abandonar.

E,
por mais que me condenem,
dispenso reabilitação."

quinta-feira, 8 de outubro de 2009




Me acorde

mesmo que não deixem.


Puxe-me pelas mãos,
cabelos,
pelas idéias...

... mas me resgate.


Me lance longe


de uma boa altura
e a uma distância
das quais
não consiga achar o caminho de volta.

Que a partir do susto eu construa um novo trilhar,
mais seguro
num abismo sem fim,
onde eu me desfragmente

e a cicatriz

seja certeira.

Sagesse




Se ouvissem tudo aquilo que domina a minha mente
e entorpece o mero avaliar sobre tudo,
não existiria uma classificação lógica.

Nem razões para meras justificativas.

É uma bússola quebrada,
racionalidade desnorteada,
um aglomerado de mim,
parte exaustiva de outro,
algo profundo em você,
rejeição infundada de tudo aquilo que me segura firme em qualquer propósito que queria por de pé,
ânsia por acabar,
pressa em voltar,
desejo de ter tudo,
mania de não querer nada...

Descompasso





O que me paralisa os pensamentos

não é o vazio demente,

que aniquila o pensar,

silencioso,

quase ensurdecedor,

desconstruindo a racionalidade das coisas.

É o ardor que clama

interiormente,

rebelde,

dando pontapés,

agredindo gratuitamente,

mas que não pode gritar...

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Imã





Existe um campo de força.
tão forte
que paralisa minhas reações,
imantando meus pés,
fincando-os no chão.

Mas ele mora dentro de mim, nos meus pensamentos mais distantes, onde nem eu posso me aproximar por falta de permissão.

Até onde não se pode monitorar nossos desejos mais gritantes?

Então...




O que sobra de mim?
Se tudo me falta,
nada me completa,
atropelo coisas
e pessoas,
fujo da raia,
me desespero de amor,
de desprezo também,
sinto ojeriza...
O que digo de mim?
Que corro da chuva,
me atiro de cabeça,
penso demais antes de agir,
reajo por ímpeto,
tenho charme barato,
devoro e me desfaço ao mesmo tempo...
Simplesmente é massa bruta,
mistura sem razão,
onde nem o artista quer pôr a mão
receiando não dar conta da complexidade que dorme...
sossegadamente agitada.

Rotas





Que o acaso nos carregue como folhas ao vento,

as pessoas reavaliem seu poder e os tomem pelos chifres

não se escondam tanto das decepções,

se atirem no desconhecido sem pensar no impacto da queda em si,

sofram amargamente,

bebam torrencialmente num bar fétido suas tristezas,
e por isso passem por ridículas,
morrendo por dentro de tanto querer (e muitas vezes não ter),

se lancem ao abrigo da escuridão profunda interior para voltarem mais fortes depois,

se arrepiem ao sentir (e retribuir) atenção alheia mas,
por devaneios explicados pelas fraquezas humanas ponham tudo a perder,

que briguem como cães e gatos...

O decreto está imposto:
É probido ser comum.

(...)




X. estacionou.


Acendeu um cigarro e lançou no ar sua fumaça - como se quisesse que, com ela, fosse junto seus sórdidos pensamentos.
Esperou pacientemente - pálido, roupa velha,
alma idem,
de barguilha aberta.


Y. surge no fim do beco escuro,vestido vermelho,
amassado, barato,
espremendo sua medíocre sensualidade num pano vagabundo de brechó.
Olhos baixos reproduzem o reflexo de sua vida.
Cabelo cuspido, ajeitado á força, com um brilho que não ofusca.


Se encontram.
Não se falam.
Nem se olham.
Economizam tempo.
Sussuram,
mordem,
entram um no mundo solitário do outro,
viram nuvem carregada de chuva.



- "São R$ 30,00"
- "Fique com o troco, sei que precisa"


Assim, morre a noite a se divertir,

gargalha desvairadamente,

das nossas mazelas...