terça-feira, 19 de outubro de 2010

Kertesz




Quisera tocar demoradamente
sem ser notada,
como do mesmo modo que a Via Láctea faz aos interlúdios mais secretos,
a sublime imagem memorizada.
Decifraria tudo, 
seus traços ofuscados pela madrugada,
inúmeras vezes, 
acordando o sentido adormecido.

Peculiaridades se escondem num silencioso extasiar.

Lucy´s hat





Aquela montanha pediu:
"Vai, lança-te no salto fatal,
faz com que as mãos entrelaçadas anulem a visão
para escancarem o descomunal.
Ao tocar as rochas corte o caudaloso e gelado rio, 
que tudo pareça incolor,
cristalino,
o fundo cinza...
Mas vai.
Só assim reconhecerá o raio fulmegante e reticente
que, atrelado ao seu corpo viaja
tácito, desconcertante, pequeno,
imenso mundo que nasce na planta dos pés,
no impulsionar enquanto sonhas..."

Vidraças




Me predisponho ao inevitável
Portanto me questiono
Analisando o tal ponto
Que no conto,
Irremediavelmente tonto,
Insiste em não sucumbir ao pertinente escombro.
Pelo menos é o que entendí,
pronto.

Mas... 
até quando?

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Na mão




Me despedirei de ti mil vezes se for preciso
Sendo assim quero
Na urgência do abraço invisível tocante
Retirar de mim o seu mundo, os últimos pedaços
Que tortuosamente perduram pelas madrugadas incomensuráveis.

Aniquilar plácido, inodoro, 
Cambaleante na beira da estrada, cegado pelo castigante  sol,
Falsa sombra reconfortante
Intercalada pela fadiga da caminhada
Derruba o pensar,
Paralisa o agir, 
Inebria o encantar...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Cisneros







A alstroemeria resplandece institivamente
Com a ambiguidade do óbvio 
Olhar paciente, reluz emudecido ao bocejar do astro dominante
Revira os cantos
De um jardim qualquer:
Epílogo mais do que reticente...

"Temo"




O silêncio alheio personifica meus temores maiores.

Com a maléfica força do tufão desnuda o declínio íntimo vagaroso,
sagaz olhar de homem inocente 
que não perdoa lançando-me a deriva na pungente bruma como a soltar criança sem rumo num parque.

Volto sempre de onde não lembro, perene mácula inominável
ansiando pelo ignoto beijo,
ao passo que os olhos despertam
para o silencioso desabrochar...

sábado, 2 de outubro de 2010

Carta aberta - parte 2






Uivos dolorosos, agora música suave,
Metódica perifraseada passa batida,
Apelos sôfregos não me atingem,
Hoje neste campo de batalha repousa o brio celeste,
tão plácido como a paz da safira,
Água calma que irrompe em corredeira caudalosa, para ela contenção devida de seu curso...

Cada coisa a seu instante,
Minutos, horas, dias, anos, a eternidade,
O zabumbar suplantado fêz-se tenro por si só, simples assim.

Como a franca água no fundo do copo, traçar seu destino:
bebeis num complacente gole...

O "achismo"






Neste ponto onde agora me encontro,
Seguindo o fio iluminado
Que atravessa a densa camada escura,
Tudo,
Aos poucos,
Torna-se multicolorido,
Frutacor,
Cheiro, forma e motivo.

Aqui só moravam restos,
Porções mal distribuídas de um sorriso
Outrora continente a ser desbravado,
Singular, misterioso, intrépido,
Como a colônia de formigas que,
Numa perfeita coordenação linear
transporta simetricamente folhas magistrais
Como a juntar notas perdidas num grande sarau vienense...

Mas hoje não.

O tracejo vivaz cintila enraivecido
Feito purpurina espalhada no assoalho
Que o vento não segura
E leva para dimensões inimagináveis
Aquilo que me servia de venda para os olhos.

Que seja impossível então recolher o pó estelar...