quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Íngrime



Adeus, incessante e renovado
que existirá sempre sob minha pele
gerando escamas qual um peixe volátil
penetrando-me com seus fluidos vitais,
caem umas e já chegam outras,
numa abrasão tornada infinda,
formada por beijos e olhares
por frutos proibidos de uma paixão
com áureas de fogo na cintura .
Forasteiro, receba
o grande amor que de mim se projeta
e que  não achava objeto próprio,
tornei-me exploradora muda por hábito,
perdida em montes e veredas,
em ilhas e mares de luminosa fantasia,
Eu te encontrei depois do cálice,
o mundo lavou-me as partes,
removida a mortalha,
retornei à vida por suas mãos,
teu jeito doce ofuscou a desdita.

 Pedaço invisível meu, continuo em combates
com a minha própria sombra,
pereço ao não transformar o mundo,
mas és a minha fonte
jorrando aos cântaros,
o meu delírio por renovação,
o meu pesar por se ter de ir um dia.

Explodirei o ventre da terra
e fa-lo-ei maldito se te perder,
em ti o meu ser se aplaca
quando te possuo plenamente não existem exéquias
que possam me roubar estes momentos.

Defendo-me das tentações com flores
para te cortejar sublime pelo infinito,
sem tormento ou sensações de prejuízo,
entre nós dois paira fulgurante
uma cauda de cometa fosforescente
nos cobrindo de enlevo,
quiçá talvez um sortilégio
se encadeie em nossa trilha
a caminho da paz.
Se fujo de ti, regresso,
Se me afasto sem razão,
retorno avidamente à luta
pois as contendas contigo são apenas escaramuças
disfarçando uma paixão perdida
sustentada pelo sangue fervente
das emoções de sempre
desvendo-te de roupas inoportunas,
procuro o teu nu encharcado,
em morosa deleitação,
adoro o mar do conhecimento
e o das águas,
por eles singro radiante e menina,
vejo-me navegando, mas nunca à deriva,
e o mapa que me guia são as linhas do teu mistério descrente.
Ao sair de ti não me cries obstáculos,
estarei exangue e sem condições
de contar-te as minhas bravatas,
já é teu o meu território, conquistaste-o
não só para te dar ,
mas para te ouvir e sentir,

Um dia o movimento deixará o corpo,
e a força se desvanecerá.
mas todos os frutos da vida
continuarão crescendo alhures, 
alinhados em outras consciências.
Saberei acariciar as novas dimensões,
porque tu me ensinaste que a ternura
ultrapassa mundos e fundos.

Objeto meu, vem a escuridão por ora.
As rochas graníticas se endurecem
nos corações dormentes, e me rodeiam .
Mas não resistem às mudanças,
chegada a aurora se derreterão
como as geléias do impossível.
Enquanto não chegam, te sinto e comando
para dizer que te possuo e desejo,
que te sirvo e domino,
vem, te insinues ao meu toque
deslizes qual bichano assustado
que se entrega às doçuras do corpo e da alma..
Aqui te deixo em liberdade
para fazeres o que quiseres com as sementes.
que plantei dentro de ti.
Em nosso amor haverá sempre
uma fogueira em ritual
onde cantarás as emoções que nunca nos cessam.

No momento exato,
homem e mulher se penetrando
tornamo-nos igual camada
ouvindo sinfonias interiores
tocadas pelas melhores harpas e violinos.
Olhos esgazeados, suores incontestes,
bocas suculentas, tremores e odores,
respiros frágeis, e o fogo nos baixos,
diremos nossos nomes cantando
trocaremos os mais infames segredos,
em cumplicidade aterradora,
quem sou, e quem és,
pobres diabos alçados à nova condição
de um amor maior
insolúvel, inesgotável,
abundante, desinteressado,
compartilhado, gêmeo,
cego, torto, mas bem nascido,
mas lindo como o sol nascente.
Varreduras totais pelo teu corpo
se interporão enquanto especularás com tua boca ,
pelos meus pelos eriçados,
entranhas do mundo,
tudo posto à prova e despertados para o nosso regozijo mútuo,
ressoando até o final dos tempos.

Figura vã te acato,
cautelosamente te aguardo.
Um silêncio me imponho,
homenagem fugaz a um império
criado numa vida a dois,
sobre as ondas estão firmes os pés ,
sob os ares estão firmes as cabeças,
apaziguadas em imensa paz
jorrando vida nova, estarei sempre
junto a ti, nem à distância, nem o tempo,
se interporão, viverei com teu nome,
essência rara, em meu pensamento
rezarei beijando-te em exaltação
e jamais te terei longe de mim.

Virás um dia ter comigo,
fundir-te num novo corpo a corpo
porque em meu coração etéreo
habitarão teu hálito e sombra
como baluartes dos reflexos
que nossas almas se permitirão,
E nessa hora te esperarei, sutil,
diáfana, purificada pelo teu florescer,
corda celestial nos envolverá
formando o melhor par da vida,
não existirão portas nem portais,
para nos consumir com o tempo,
nem solidão, nem multidão...

(W.J.)

Um comentário:

  1. "Virás um dia ter comigo
    e tudo transformarás,
    na cadência sublime do istante...

    E deixam de existir portas fechadas,
    vidros translúcidos
    feitos de afrodisiacos mentindo
    a todo o instante
    e seremos finalmente, felizes...

    Gostei do que escreve!

    Maria Luísa

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