sábado, 18 de fevereiro de 2012

No excuses


Ao que me persegue nos cantos do passado, tomai seu rumo.

Fora do meu alcance, 
onde só um vago resquício de memória nos conecte,
estará seguro.

Permaneça assim,
conturbado, indelével,
longe da pueril ternura que a mim associa.

E para o seu bem, ao tocar nuvens
sinta-as desfazer entre as mãos ávidas como sonhos mal vividos
e sangre gargantas,
para que a bebida barata
bocejante no fundo do copo que me observa
faça algum sentido
ou decrete meu fim...

Que  este seja um recomeço.


segunda-feira, 14 de novembro de 2011

À espreita

Quem na penumbra me espera?

Ouço atenta um pulsar do peito,
fatídico e pertubador,
inconscientemente no vão que engole o quarto.

Agachada, rente à parede,
abraçada ás próprias pernas,
tremendo de medo, 
curiosa criança feita de sombras.

 Num delírio cego tateio o ar
Procurando o que talvez nao exista
Ou alguém que
Na ânsia de brincar no escuro
Seja a luz no túnel
Que  penso não possuir mais...















segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Espaços









Eu quero
na avidez do agora
sóis bocejantes, ociosos,
daqueles que cospem estrelas.
Parceiras, irmãs
de vícios e mal entendidos
serenatas nulas,
bucolismos, palavras vãs,
debruçadas num pátio negro
atônitas de tédio e ressaca.
Quando a flor tiver adormecido
quero voltar para mim,
quero a minha casa,
aquela mesma onde nunca estive.

Sob o tácito arvoredo mirar na soalheira
e estraçalhar a velha janela,
roubar fruta do pé, voltar a sonhar de novo.

Que não seja nada demais por fim:
buscar o encantamento perdido,
tirar o pó do futuro 
e vestir o frescor hipnótico do que se passou...




sábado, 24 de setembro de 2011

Desconcertante







Entre cortinas encardidas,
velho caderninho como testemunha,
um feixe brilhante sob a chuva me espera.
Ele, solene a espreita, mãos no bolso
Me vigia presumindo meus passos
Como criança a contar  pedrinhas pelo caminho.

Pode ser um interlúdio,  uma conspiração,
Doce algoz que mata silenciosamente
E depois foge ás gargalhadas.

E quem sabe 
inevitavelmente
não seja eu mesma,
delirante e perplexa,
reclusa e desconexa
 inquietação frívola
de tocaia...

Encontro a minha íris e enxergo o mundo.





quarta-feira, 22 de junho de 2011

No name




Caneta na mão de anti poeta é curiosa:
parece uma espada, forjada no fogo da bainha,
que trava com seu dono um duelo particular
onde seu oponente se eterniza
e aniquila seu admirador.
Tudo num só golpe...


Mumuk







Quisera ter o poder para sentir palavras
e nesta sonâmbula egotrip tornar-me um corpo só
onde todos os significados lhe cabem.
Envolver os dedos em frases para apurar detalhes,
pontas vivas,
assim quisera eu,
monossilabicamente,
nascer interrogação,
persistir parágrafo,
sucumbir em reticências...












sábado, 28 de maio de 2011

Inserts






Despertar ao morrer do dia.
No extremo da rua um brilho.
Em seu núcleo uma porta, entreaberta.
Aroma que laça
e não avisa para onde ir.
É assim com as palavras:
viajam desgovernadas,
meninas,
heroínas,
aniquiladoras,
escudo em riste,
apontando o dedo na cara,
trazendo sede, torturando,
mas estampando em sua tez 
a profundidade que somente as grandes coisas abrigam.